O crescimento do ensino superior no Brasil nos últimos anos trouxe avanços significativos no acesso à universidade, mas também evidenciou fragilidades profundas na educação básica. Muitas vezes, o aumento das matrículas aconteceu antes que as bases do ensino fundamental e médio estivessem consolidadas, criando um desequilíbrio entre oferta de vagas e preparo dos estudantes. Essa situação reflete um problema histórico de investimento desigual e atenção insuficiente às etapas iniciais da formação escolar, prejudicando a qualidade do aprendizado em todos os níveis.
O acesso ampliado ao ensino superior ocorreu em um contexto de escolas públicas com infraestrutura precária, falta de materiais e professores sobrecarregados. Estudantes chegam às universidades sem domínio de habilidades essenciais, como leitura crítica, interpretação de textos e raciocínio lógico. Essa lacuna gera dificuldade de acompanhamento dos conteúdos, maior taxa de reprovação e evasão, e coloca as instituições em um desafio constante para equilibrar qualidade e quantidade de matrícula.
A expansão sem planejamento estrutural também impactou a própria capacidade das universidades. Muitas instituições, públicas ou privadas, precisaram lidar com a demanda crescente sem suporte adequado, com falta de políticas de permanência estudantil e acompanhamento pedagógico eficiente. O resultado é que o aumento de vagas nem sempre se traduziu em melhora de aprendizado ou oportunidades reais de desenvolvimento acadêmico e profissional para os estudantes.
Outro aspecto crítico está na valorização insuficiente do trabalho docente na educação básica. Professores enfrentam salários baixos, condições de trabalho limitadas e escassez de recursos didáticos, o que compromete a motivação e a formação contínua. A consequência direta é a falta de preparação adequada dos alunos que chegam ao ensino médio e superior, reforçando um ciclo de desigualdade educacional que permanece ativo há décadas.
O modelo adotado de expansão rápida do ensino superior, muitas vezes, priorizou o número de alunos em detrimento da qualidade. Sem ajustes estruturais, o acesso universal se torna simbólico, e as instituições precisam adaptar currículos e conteúdos para atender a uma realidade de estudantes despreparados. Essa adaptação, embora necessária, compromete a formação completa e o potencial transformador que a educação superior deveria oferecer.
Além disso, a falta de integração entre políticas de ensino básico e superior evidencia a necessidade de planejamento a longo prazo. A expansão isolada das universidades não resolve desigualdades, e o Brasil corre o risco de formar profissionais com diploma, mas sem competências sólidas. Garantir uma base sólida desde os primeiros anos escolares é essencial para que o acesso ao ensino superior se traduza em oportunidades concretas de desenvolvimento social e econômico.
O fortalecimento da educação básica passa por investimentos em infraestrutura, valorização de professores, programas de formação continuada e recursos pedagógicos adequados. A equidade entre diferentes regiões e redes escolares também é fundamental para reduzir as desigualdades no acesso ao conhecimento. Somente assim será possível equilibrar o sistema educacional, preparando os estudantes para enfrentar os desafios do ensino superior e do mercado de trabalho.
Em última análise, a expansão do ensino superior no Brasil revela a urgência de priorizar a educação básica. Sem uma base sólida, o aumento de vagas universitárias não garante aprendizado efetivo nem desenvolvimento social. A solução exige políticas integradas, visão de longo prazo e compromisso real com a qualidade em todos os níveis de ensino, garantindo que o crescimento do acesso não comprometa a formação de cidadãos preparados e competentes.
Autor: Elysia Facyne
